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Nematoide: o inimigo que vem do solo

 

O tomate é originário dos Andes e atualmente está entre as culturas mais difundidas e cultivadas em tudo mundo. Os frutos de tomate são consumidos, principalmente, devido ao seu alto valor nutritivo, contendo em sua composição carotenóides, minerais, antioxidantes e vitaminas. A cultura desenvolve-se bem em diferentes climas e regiões, desde climas tropicais até climas mais temperados.

 

                           Por: Cacilda Márcia Duarte Rios Faria, Aline José Maia, Leandro Alvarenga Santos e Luciana Villanova Obici

 

Independente do habitat, esta cultura é atacada por várias doenças e pragas que afetam seu rendimento. Entretanto, um dos fatores limitantes na produção de tomate, é a ocorrência de doenças, que se constitui num dos maiores problemas para obtenção de produtividades mais elevadas e produto de melhor qualidade.

 

Dentre as doenças, encontram-se as causadas por nematóides. Estes micro-organismos são importantes para a produção de tomate, principalmente em condições tropicais, por sua presença praticamente em todas as áreas de cultivo.

 

Os fitonematoides causam redução de produtividade que variam de 30 a 50%, mas em locais de cultivo intenso, na mesma área e sem a adoção de medidas de manejo, essa perda pode chegar próxima a 100%, principalmente quando na presença do nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.). 

 

Da produção total do mundo, estima-se em média que resulte em US$ 100 a 157 bilhões de dólares de perdas anuais geradas por nematóides. Os prejuízos gerados nas plantas são variáveis dependendo da suscetibilidade da variedade afetada, do gênero de nematoide e das medidas adotadas. Muitas vezes esses problemas podem ser intensificados pelas condições de cultivo das regiões produtoras que facilitam a disseminação dos nematoides.

 

Nas áreas onde são cultivados tomateiros, os principais gêneros de nematóides que causam danos expressivos à cultura são Meloidogyne, Pratylenchus, Belonolaimus, e Rotylenchulus.

 

Os danos geralmente são ocasionados nas raízes, sendo que alguns gêneros ocasionam lesões nas raízes, como Pratylenchus, e outros geram mudanças fisiológicas, formando galhas, como Meloidogyne

 

No entanto, em ambos os casos as raízes apresentam ferimentos que servem de porta de entrada para outros patógenos, como Sclerotium rolfsii e Ralstonia solanacearum. 

 

O gênero Meloidogyne induz a mudanças fisiológicas nas células das raízes, por meio de hiperplasia e hipertrofia das células, exibindo os sintomas de galhas nas raízes. Na parte aérea da planta podem ser observados, inicialmente na forma de reboleiras, os seguintes sintomas: nanismo, clorose, amarelecimento das folhas e morte da planta, nas situações mais severas.

 

O gênero Pratylenchus tem ampla gama de hospedeiros e, mais recentemente, vem sendo relatada a ocorrência do mesmo em hortaliças, dentre as quais, destaca-se o tomateiro. Esse nematoide tem como sintoma principal a formação de lesões no sistema radicular, devido ao hábito migrador do mesmo. Na parte aérea, podem ser observados sintomas que são facilmente confundidos com aqueles ocasionados por outros patógenos radiculares ou vasculares ou até mesmo por deficiências nutricionais. Esses sintomas aparecem em reboleiras, com as plantas apresentando atraso no desenvolvimento.

 

Manejo no tomateiro

 

Para o manejo dos nematoides em tomateiro, uma série de medidas devem ser observadas, pois uma vez introduzidos na área não tem como erradicá-los, tendo o produtor que conviver com os mesmos, minimizando as perdas. Para isso, várias medidas visam reduzir a população do nematoide na área de cultivo e não a eliminação dos mesmos.

 

Para evitar a entrada dos nematoides nas áreas de cultivo, algumas medidas de prevenção devem ser tomadas, dentre elas temos: realização de amostragem na área para realização de análise e verificação da presença dos nematoides, quais gêneros e mesmo a população existente, medida esta de grande importância na implantação de novas áreas de cultivo; obtenção de mudas de qualidade, isentas deste patógeno; limpeza de maquinário e ferramentas, o que impossibilita o transporte de partículas de solo aderidas e com isso a disseminação do patógeno; conhecer o histórico da área, para saber quais culturas foram cultivadas anteriormente e qualquer outra medida que dê ao produtor suporte para conhecimento da área.

 

Várias medidas ainda são importantes no manejo de nematoides, pois existem poucas opções de nematicidas no mercado e que, normalmente, são produtos tóxicos e com grande período residual, o que aumenta o risco de contaminação da cultura e do ambiente. Dentre essas medidas destacam-se as culturais como: 

 

  • Rotação de culturas: medida extremamente importante para a redução do inoculo do nematoide na área. Para o gênero Meloidogyne não é uma medida tão simples, devido à gama de hospedeiros do patógeno. Nas áreas com olerícolas, tem-se como opção alguma plantas da família Brassicaceae como couve chinesa, mostarda preta, mostarda e repolho, que apresentam níveis de tolerância ao nematoide-das-galhas.Importante, nesses casos, e quando for utilizar a rotação de culturas, conhecer a espécie de Meloidogyne que predomina na área, pois a rotação normalmente é mais eficiente para M. javanica que para M. incognita. No caso de haver a presença de Pratylenchus spp., deve-se tomar cuidado com a utilização de gramíneas, pois estes multiplicam-se rapidamente em algumas espécies.

 

  • Alqueive: consiste em deixar a área de cultivo limpa, sem a presença de culturas comercias ou plantas daninhas. Importante durante esse período que sejam realizadas práticas para a eliminação de qualquer tipo de planta. Pesquisas já demonstraram que essa prática pode reduzir a população do nematoide-das-galhas na área em mais 75%. 

 

  • Utilização de plantas antagonistas: algumas plantas, como crotalarias (Crotalaria spectabilis e C. juncea) e cravo de defunto (Tagetes spp.), podem ser usadas com sucesso no manejo de fitonematoides. Estas plantas podem agir permitindo a penetração do nematoide em seus tecidos, mas não permitem que os mesmos completem seu desenvolvimento (crotalarias) ou liberando substâncias tóxicas aos nematoides (cravo de defunto). As crotalarias podem ser utilizadas como adubo verde e ser incorporadas na área, sempre antes da floração e o cravo de defunto pode ser viável em áreas menores, pois não serve como adubo verde.

 

  • Eliminação de restos culturais e plantas daninhas: todo resto de cultura infectado por nematoides deve ser eliminado da área para que não se constitua em fonte de inoculo para novo plantio. O ideal é a retirada de todo o sistema radicular infectado e a destruição dos mesmos. Nos cultivos de tomate com tutoramento, evitar a utilização do mesmo com restos de cultura. A eliminação de plantas daninhas na safra e, principalmente, na entressafra é muito importante para que não haja a manutenção e reprodução do inoculo na área. Isto se deve ao fato de que muitas planta daninhas são boas hospedeiras de nematoides (Meloidogyne e Pratylenchus).

 

  • Utilização de matéria orgânica: a matéria orgânica, incorporada ao solo, funciona como condicionador do solo. Neste caso, favorecem o desenvolvimento das plantas, com mais vigor, sendo as mesmas favorecidas frente ao ataque dos fitonematoides. Pode atuar também favorecendo o desenvolvimento de microrganismos antagonistas de nematoides na área, mantendo a população dos nematoides em equilíbrio e podem agir também por meio das substâncias liberadas na decomposição da matéria orgânica, que podem ter ação nematicida. Podem ser recomendadas em pequenas áreas ou na produção orgânica. Exemplos de matéria orgânica utilizada no manejo de nematoides: resíduos de plantas da família Brassicaceae, bagaço de cana de açúcar, palha de café, torta de mamona, esterco bovino e outros resíduos da produção agrícola. Outra medida que pode ser utilizada com sucesso, em áreas pequenas ou em canteiros, é a solarização. Essa técnica constitui em cobrir a área com plástico transparente por um período que pode variar de 3 a 8 semanas. O objetivo da prática seria o de aquecer o solo nas camadas mais superficiais, eliminando parte dos nematoides presentes nessa faixa de solo. Tem o inconveniente de ter que manter a área sem cultivo por esse período e o alto custo.

 

O Cultivo e a genética

 

No cultivo de tomate, tem-se uma série de cultivares com resistência genética para o nematoide-das-galhas. No entanto, esta busca por novos materiais resistentes não pode parar, pois é conhecida a habilidade desses microrganismos em “quebrar” a resistência conferida. Neste caso, é importante conhecer a espécie de Meloidogyne que se tem na área, pois a espécie M. enterolobii é citada causando danos em áreas com plantas resistentes.

 

O controle biológico é uma das alternativas viáveis para o manejo. Existem pesquisas com fungos predadores e bactérias para essa finalidade. Começam a surgir produtos comerciais com base em microrganismos agentes de controle biológico para a utilização nas áreas de cultivo. Outra possibilidade são as alternativas estudadas por universidades e instituições de pesquisa, com utilização de óleos essenciais, extratos de plantas e outros para o manejo efetivo de fitonematoides, visando a sustentabilidade dos sistemas de cultivo.

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