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Marcha de absorção e extração de nutrientes pelo tomateiro

Por Pedro Roberto Furlani, CONPLANT – Consultoria, Treinamento, Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola Ltda. pfurlani@conplant.com.brLuis Felipe Villani Purquerio, Instituto Agronômico, Centro de Horticultura, felipe@iac.sp.gov.br; Bruna Franciele Iversen da Silva, Instituto Agronômico, Centro de Horticultura.

Dentro da cadeia produtiva da tomaticultura, empresas públicas e privadas, estão em continuado esforço no sentido de oferecer aos produtores novas cultivares e híbridos que apresentam resistências a pragas e doenças, adaptação as diferentes condições climáticas, e com melhor aproveitamento dos insumos disponíveis aumentando seu potencial produtivo. Consequentemente, com a maior produção de massa vegetal, também se altera a necessidade nutricional dessas plantas.

Assim para poder refinar as recomendações de adubação existentes para cada cultivar são necessários estudos envolvendo o acúmulo e as curvas de absorção de nutrientes que são importantes nas recomendações de adubação/fertirrigação pois indicam a quantidade necessária para o crescimento diário da planta ocasionando melhoria da eficiência dos nutrientes aplicados e evitando sobras fertilizantes/sais no solo e portanto, possibilitam estabelecer as proporções entre nutrientes mais adequadas ao cultivo.

A curva ótima de consumo de nutrientes pela planta auxiliará na definição da quantidade de aplicação de um determinado nutriente. Para isso, em função das curvas de absorção de nutrientes, devem-se obter as taxas diárias de absorção dos mesmos e utilizar essa informação respeitando as etapas fenológicas de crescimento das plantas para se definir as diferentes quantidades e proporções entre os nutrientes a serem aplicados durante as adubações.

No Brasil o trabalho pioneiro visando à absorção dos nutrientes pelo tomateiro feito por Gargantini & Blanco (1963) utilizando a variedade Santa Cruz 1639. Ao final do ciclo de cultivo o acumulado total de nutrientes foi 185>93,6>31>28>21>9 kg ha-1, para K, N, Ca, S, P e Mg. Os autores verificaram que os conteúdos de N, K, Mg e S alcançaram valores máximos no período de 100 a 120 dias após a germinação, enquanto que o Ca e o P foram absorvidos durante todo o ciclo da cultura. Infelizmente, no Brasil, ainda existem poucos trabalhos publicados e estudos gerando curvas de acúmulo de nutrientes em cultivares com níveis de produtividade alcançados muito superiores aos alcançados naquela época, principalmente pela utilização de híbridos em substituição as cultivares.

Fayad et al. (2002) chegaram a resultados diferentes quanto à exigência quantitativa de nutrientes pela cultivar Santa Clara em campo aberto obtendo em ordem decrescente de acúmulo de nutrientes na parte aérea: K > N > Ca > S > P > Mg, alcançando os valores máximos de 360,0, 206,0, 202,0, 49,0, 32,0 e 29,0 kg ha-1, respectivamente para cada nutriente, atingindo produtividade de 88,6 t ha-1. Em ambiente protegido e utilizando o híbrido EF-50, os mesmos autores verificaram que o acúmulo de nutrientes na parte aérea do tomateiro decresceu na seguinte ordem: K > N > Ca > S >Mg > P, alcançando os valores de 264,0 211,0, 195,0, 49,0, 40,0 e 30,0 kg ha-1, respectivamente para cada nutriente e produtividade de 109 t ha-1

Para os cultivares tipo salada Paron e Silluet aos 90 dias após o transplante de mudas E produtividade de frutos de  a extração total de macronutrientes em (g/planta) foram de: 13,9 de N, 3,0 de P, 21,5, de K, 9,5 de Ca, 2,2 de Mg e 4,3 de S para o Paron e de 10,6 de N, 1,7 de P, 16,9 de K, 5,6 de Ca, 1,5 de Mg e 2,3 de S para o Silluet ( Furlani & Maggio, 2008,  dados não publicados)

Para o híbrido do grupo grape, Angelle cultivado por hidroponia em vaso com substrato em estufa, Furlani & Maggio (2012, dados não publicados), obtiveram aos 138 dias de cultivo, um acúmulo total por planta de 7,0 g de N, 12,3 g de K, 1,7 g de P, 4,31 de Ca, 1,0 g de Mg e 1,3 g de S.

Para o hibrido Gault, Purquerio et al. (2012 a) verificaram que o acúmulo total de macronutrientes foi de: 31,8 de K, 16,3 de N, 10,3 de Ca, 3,9 de S, 3,0 de Mg, 2,2 de P expresso em g ha-1, com produtividade de 147,9 t ha-1.

Para o híbrido do grupo Salada, Pomeramo, Purquerio et al. (2012 b) verificaram acúmulo total, em g ha-1 de: 16,2 de K; 9,0 de N; 1,5 de Ca; 1,3 de P; 1,0 de S, 0,6 de Mg, com produtividade de 127,1 t ha-1.

Para os cultivares tipo salada Paron e Silluet aos 90 dias após o transplante de mudas a extração total de macronutrientes em (g/planta) foram de: 13,9 de N, 3,0 de P, 21,5, de K, 9,5 de Ca, 2,2 de Mg e 4,3 de S para o Paron e de 10,6 de N, 1,7 de P, 16,9 de K, 5,6 de Ca, 1,5 de Mg e 2,3 de S para o Silluet ( Furlani & Maggio, 2008,  dados não publicados)

Para o híbrido Vento, Silva et al. (2013), verificaram o acúmulo total de macronutrientes (parte aérea e frutos) aos 126 DAT nas quantidades de: K (19,7) > N (14,5) > Ca (6,3) > S (4,4) > P (3,6) > Mg (1,5), expressas em g planta-1; para os micronutrientes as quantidades, expresso em mg planta-1 foram: Cu (132,9) > Mn (72,6) > (Fe 57,2) > (Zn 32,9) > (B 16,4), com produtividade de 109,9 t ha-1.

Para o cultivar Ozone, aos 161 dias após o transplante de mudas, Furlani & Maggio (2016, dados não publicados), a extração total em g/planta foi de 18,7 g de N, 3,1 g de P, 22,6 g de K, 7,4 g de Ca, 2,6 g de Mg e 4,6 g de S.

Para o cultivar Dylla, aos 122 dias após o transplante de mudas, a extração total (g/planta) foi de 17,5 de N, 1,9 de P, 22,1 de K, 10,8de Ca, 2,8de Mg e 4,8 de S (Furlani & Maggio, 2016, dados não publicados).

Em estudo com os híbridos Dominador e Serato, Purquerio et al. (2016), no final do ciclo de cultivo, verificaram os máximos acúmulos totais (planta e frutos) estimados na seguinte ordem, em g planta-1: 27,9 de K, 17,7 de N, 11,5 de Ca, 5,1 de S, 3 de Mg e 2,4 de P, com produtividade de 131,9 t ha-1 para ‘Dominador’ e 33,0 de K, 19,8 de N, 8,4 de Ca, 4,0 de S, 2,7 de Mg e 2,6 P, expressos em g planta-1, com produtividade de 158,7 t ha-1 para ‘Serato’.

A quantidade de nutrientes absorvidos pela planta de tomate durante o ciclo depende de fatores bióticos e abióticos, como temperatura do ar e solo, luminosidade e umidade relativa, época de plantio, genótipo e concentração de nutrientes no solo. Esses e outros fatores, como a fertirrigação, condução vertical das plantas e cobertura plástica, presentes de forma diferenciada nos sistemas de cultivo do tomateiro conduzido em condições de campo e em ambiente protegido influem na absorção de nutrientes (Fayad et al., 2002).

Os teores de nutrientes nas diferentes partes da planta apresentam grande variação, em função das atividades metabólicas e fisiológicas da planta. À medida que os frutos começam a se desenvolver, há um incremento na absorção de nutrientes pelas plantas. As folhas são, até este estádio, o órgão da planta com maior concentração de nutrientes e massa seca. A partir de então alguns nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio passam gradativamente a se acumular em maior quantidade nos frutos. Dessa forma, no tomateiro, os frutos são o grande dreno de nutrientes e fotoassimilados, sendo tais nutrientes exportados juntamente com os frutos.

Com os resultados de absorção de nutrientes ao longo do ciclo de cultivo obtidos para uma diferente gama de cultivares, existe a possibilidade de melhor entendimento da demanda nutricional em cada etapa do crescimento. Com isso, evitam-se quantidades excessivas de fertilizantes, que podem levar a níveis de salinidade superior ao limite da planta. Evitam-se, também, quantidades abaixo do mínimo necessário para atingir determinadas metas de produtividade, melhorando o manejo nutricional dessas culturas (Purquerio, 2010). 

É essencial, portanto que sejam realizados mais estudos de acúmulo de nutrientes durante o ciclo produtivo, para diferentes cultivares de tomateiro, para que exista a possibilidade de refinamento da nutrição e manejo da adubação, visando à máxima eficiência dessa cultura. 

Alvarenga et al.(2004) estabeleceram uma planilha de cálculo e de aplicação de nutrientes via fertirrigação para a cultura do tomateiro, baseando-se nas curvas de crescimento, necessidades nutricionais durante as diferentes fases fenológicas e as quantidades necessárias de N, P, K e Ca para cada kg de fruto a ser produzido.

Com os resultados gerados para uma diferente gama de espécies de hortaliças, existe a possibilidade de melhor entendimento da demanda nutricional em cada etapa do crescimento, evitando quantidades excessivas de fertilizantes, que podem levar a níveis de salinidade superior ao limite da planta, bem como quantidades abaixo do mínimo que a planta necessitaria para atingir determinadas metas de produtividade, melhorando assim o manejo nutricional dessas culturas. O uso de extratores de solução do solo tem sido uma ferramenta valiosa para monitorar o meio radicular e possibilitar análises pontuais da salinidade e concentrações de nutrientes. Entretanto, há muita carência sobre as composições mais adequadas de soluções do solo para diferentes culturas.

A busca por produtos com qualidades nutricionais e organolépticas é hoje uma exigência do mercado consumidor de tomates. Tanto a pesquisa quanto as empresas de sementes e insumos devem contribuir para que o produtor tenha orientações de como fazer para melhor explorar as características das cultivares modernas em produtividades quantitativa e qualitativa e, poder oferecer ao consumidor um produto seguro do ponto de vista alimentar.

 

LITERATURA

Alvarenga, M.A.R.; Lima, L.A. & Faquin, V. Fertirrigação. In: ALVARENGA, M.A.R. (Editor) Tomate: Produção em campo, em casa de vegetação e em hidroponia. Lavras, Editora UFLA, 2004.cap. 6, p.121-158.

Fayad, J.A.; Fontes, P.C.R.; Cardoso, A.A.; Finger, F.L. Ferreira A, F.A. Absorção de nutrientes pelo tomateiro cultivado sob condições de campo e de ambiente protegido. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20, n.1, p.90-94, 2002.

Gargantini, H. e Blanco, H. G. (1963). Marcha de absorção de nutrientes pelo tomateiro. Bragantia, 56, p. 693-713.

Purquerio, L. F. V., Doratioto, T. R., Oliveira, A. H. V., Moraes, L. A. S., Calori, A. H. e Factor, T. L. (2012 a) Absorção de macronutrientes pelo híbrido de tomate Gault. 

Purquerio, L. F. V., Doratioto, T. R., Oliveira, A. H. V., Moraes, L. A. S., Calori, A. H. E Factor, T. L. (2012 b) Absorção de macronutrientes pelo híbrido de tomate Pomerano. Horticultura Brasileira 30: S6956-S6963.

Purquerio, L. F. V., Santos, F. F. B. E. Factor, T. L. (2016). Nutrient Uptake by Tomatoes ‘Dominador’ ‘Serato’ Grown in São Paulo State, Brazil. Artigo aceito para publicação. Acta Horticulturae.

Purquerio, L.F.V. (2010). Evolução histórica das tecnologias e insumos para a sustentabilidade na olericultura. Horticultura Brasileira 28: S77-S84.

Silva, B. F. I., Purquerio L. F. V. e Factor, T. L. (2013) Absorção de nutrientes pela planta e frutos do híbrido de tomate Vento (10648). In: 7º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica – CIIC 2013. Anais… Campinas: CIIC.

 

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