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Manejo conservacionista do solo no cultivo de tomate no Sul do Brasil

Por Dr. Leandro Hahn, engenheiro agrônomo, pesquisador em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas na Estação Experimental de Caçador-SC (EPAGRI), Professor Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp).

 

A maioria dos cultivos de tomate no Sul do Brasil é realizado com revolvimento intenso do solo e sem a adoção de práticas conservacionistas do solo e água. Adiciona-se a isso que as áreas mais adequadas à mecanização são utilizadas para cultivo de grãos e, nesse caso, o cultivo de hortaliças fica restrito ao uso de terras com acentuada declividade e dificuldade de mecanização.

 

O resultado é uma reduzida qualidade física, química e biológica do solo. A fragilidade da maioria dos solos, muitos com horizontes superficiais de textura arenosa, e o relevo acidentado da região, agravam essa situação, culminando com elevada erosão hídrica. Nessas áreas os solos encontram-se intensamente degradados e com sua capacidade produtiva reduzida, muitas vezes tendo já perdida, parcial ou completamente, sua camada superficial.

 

OLHO: Considera-se a forma tradicional de manejo do solo adotada no cultivo de tomate incompatível com a aptidão agrícola da maioria das terras e seu uso efetivo.

 

A cultura tomate e o desequilíbrio do solo

 

Historicamente, o tomate é produzido com elevadas quantidades de fertilizantes e corretivos, com uso incipiente de critérios agronômicos para sua aplicação, resultando no acúmulo de nutrientes nas camadas superiores do solo. Em cultivos orgânicos, com uso excessivo de fertilizantes orgânicos, esse cenário também ocorre. Desequilíbrios nutricionais nas plantas são comumente verificados em função da altíssima concentração de nutrientes nas camadas superfícies do solo. O intenso revolvimento do solo o torna suscetível à erosão, resultando em elevadas perdas desses nutrientes para os mananciais de água.

 

Além da degradação física e desequilíbrio de nutrientes no solo, do ponto de vista biológico, solos com cultivo de hortaliças também se apresentam fragilizados. De um modo geral, há baixo fornecimento de resíduos orgânicos e raramente mantem-se o solo com cultivo de plantas de cobertura ou para adubação verde.

 

A falta de rotação de cultivos diminui a diversidade de organismos do solo e seleciona populações de fitopatógenos, sejam nematoides, fungos ou bactérias. Seguidamente, produtores relatam o aumento da incidência de doenças de solo em áreas com longo histórico de cultivo de hortaliças, o que é resultado da diminuição da diversidade de organismos do solo e a seleção de populações deletérias às plantas.

 

A maior área de cultivo de tomate em Santa Catarina localiza-se na região de Caçador, com cerca de 800 ha. No PD do tomate, sugere-se que plantas gramíneas tenham a maior participação na biomassa residual, de modo a obter longo período de cobertura do solo. Quando o plantio é feito sobre cobertura vegetal, principalmente com aveia, os sulcos para a adubação e o plantio devem ser preparados entre aproximadamente duas a três semanas antes do plantio para melhor incorporação e mistura dos adubos minerais ou orgânicos, que ficarão concentrados nos sulcos.

 

Ressalta-se que, a semeadura da aveia deve ser planejada para que o plantio do tomate ocorra quando a aveia se encontre na fase de grão-leitoso. Nessa fase da aveia, não é necessária sua dessecação, pois ela é tombada pelo movimento das máquinas e trabalhadores. Anteriormente a esta fase da aveia, ela deverá ser dessecada, pois o seu rebrote competirá por luz com as mudas de tomate, promovendo o estiolamento das plantas.

Pela necessidade de áreas novas, o tomate seguidamente é implantado em áreas com teores baixos a muito baixos de fósforo e, eventualmente, de potássio. Nestes casos, recomenda-se a aplicação em duas etapas: a primeira metade (½) da dose aplicada a lanço em toda a área por ocasião do preparo do solo no plantio da aveia, e a outra metade (½) da dose aplicada na base, no sulco de plantio do tomate.

 

Esta é a recomendação preconizada pelo Sistema de Produção Integrada de tomate tutorado (Sispit) e maiores informações sobre o manejo da adubação nesse sistema podem ser consultadas em Hahn & Suzuki (2016).

 

Normalmente o tomate (Figura 1) é implantado com abertura de sulcos, necessitando de uma máquina com disco de corte da palhada e um sulcador.

 

Alternativamente, quando o solo já está com a fertilidade e a acidez corrigida, todo o fertilizante da hortaliça pode ser aplicado na implantação da planta de cobertura, seja em área total ou em sulcos que receberão as plantas de tomate (Figura 2). Neste caso, não há qualquer revolvimento do solo.

Na Epagri – Estação Experimental de Caçador-SC, comparou-se em duas safras a produção de tomate implantado nos sistemas de plantio convencional e plantio direto em quatro coberturas de solo (aveia, nabo, aveia consorciada com nabo e pousio). Verificou-se que a produtividade de frutos comerciais e Extra AA (os de maior calibre e valor comercial) e a massa média dos frutos, foi superior no plantio direto de tomate em comparação ao plantio convencional (Tabela 1).

 

As plantas de cobertura de solo de inverno, aveia, nabo, aveia+nabo ou o pousio, não interferiram nos parâmetros de produção. Nesse caso, sugere-se o uso da aveia por permitir uma cobertura mais prolongada do solo.

 

Tabela 1. Produtividade de frutos do tomateiro e massa média de frutos em função do sistema de plantio e da cobertura de solo de inverno.

Níveis dos fatores ——- Produtividade de frutos (t ha-1) ——– Massa média de frutos
Total Comercial Extra AA Extra A Descarte Comercial (g)
Sistema de plantio
Plantio convencional 104,3ns 97,3 B 77,2 B 20,0 A 6,9ns 196,5 A
Plantio direto 109,0 102,8 A 85,1 A 17,7 B 6,1 200,2 B
Cobertura de solo de inverno
Aveia+Nabo 110,2ns 103,8ns 85,5ns 18,4ns 6,4ns 200,3 ns
Aveia 105,0 98,4 80,3 18,0 6,6 198,2
Nabo 107,7 101,1 80,9 20,2 6,6 198,5
Pousio 103,7 97,2 78,2 18,9 6,6 196,5
Média 106,7 100,2 81,3 18,9 6,5 198,4

Ns: não significativo.

Fonte: Walmorbida et al. (2020).

 

Considerações finais

 

Quando se fala em plantio direto, o leitor de imediato irá imaginar o cultivo de grãos, como milho e soja. Já quando o assunto é cultivo de hortaliças, quase inevitável associá-lo ao intenso preparo do solo com revolvimento com arado ou enxada rotativa. Este é ainda o cenário real do PD, o cultivo de grãos quase a totalidade sob este sistema de manejo, e as hortaliças, sob manejo convencional do solo.

 

Quando se fala em conversão do manejo convencional para o manejo em plantio direto de tomate, a primeira pergunta a se fazer é a seguinte: dispõe-se atualmente de tecnologias de PD possíveis de serem utilizados pelos horticultores?

 

Afortunadamente, pode-se dizer que sim, tem-se à disposição tecnologias bem consolidadas e validadas pela pesquisa e em uso pelos produtores de SC. O melhor exemplo disso é o PD de tomate na região de Caçador. Apesar disso, uma série de gargalos precisa ser superada, especialmente o desenvolvimento de um maior número de máquinas e melhores recomendações de manejo de plantas de cobertura e da adubação em PD. Por fim, a difusão e adoção das técnicas conservacionistas do solo pelos produtores deve ser aumentada, tanto por agentes de extensão da iniciativa privada quanto pública.

O manejo conservacionista do solo pela técnica do plantio direto de tomate é uma alternativa para o desenvolvimento da produção com viabilidade econômica e sustentabilidade ambiental. O sistema deve receber ajustes conforme as realidades locais, podendo ser desenvolvido nos mais diversos ambientes ou realidades socioeconômicas.

 

Contato: E-mail: leandrohahn@epagri.sc.gov.br

 

Referências

 

HAHN, L.; SUZUKI, A. Manejo de solo, adubação e nutrição de plantas. In. BECKER, W. F. et al. Sistema de Produção Integrada para o tomate tutorado em Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2016. 149p.

VALMORBIDA, J.; WAMSER, A. F.; SANTIN, B. L.; ENDER, Marcos M. Métodos de manejo e plantas de cobertura do solo para o cultivo do tomateiro tutorado. Agropecuária Catarinense, v.33, p.76-81, 2020.

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